segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O que significa o contrato de R$1,7 bilhão anunciado semana passada?

O discreto Cassa Hotel, na 45th Street, em Manhattan, registrou na última semana uma movimentação atípica para um estabelecimento quatro estrelas, sem muita ostentação. Foi neste endereço que um grupo de bilionários chineses, controladores do grupo HNA, com base em Pequim, e os brasileiros David Neeleman, CEO e maior acionista da Azul Linhas Aéreas, e Antonoaldo Neves, presidente, assinaram um contrato de R$ 1,7 bilhão, anunciado na terça-feira 24.

O acordo, o maior do setor neste ano, transferiu 23,7% do capital da empresa brasileira para os chineses e transformou a novata no mercado, fundada em 2008, na mais capitalizada da América Latina e na companhia aérea mais valiosa do País, com R$ 7 bilhões. A TAM, que responde por 44% do Grupo Latam, tem valor de mercado estimado em R$ 5,3 bilhões. Já a Gol vale R$ 1,2 bilhão na bolsa. “Estrategicamente, foi um negócio da China para nós e para eles”, disse Neves.

“Com a operação, consolidamos uma base acionária global, ampliamos a capilaridade de nossa malha e cobrimos nosso alcance em todo o planeta.” A afirmação do executivo soa como exagero, mas não é. Além de ser a companhia aérea com o maior número de destinos no Brasil, operando em mais de cem cidades, a Azul tem como sócia a americana United Airlines, que desembolsou US$ 100 milhões por uma fatia de 5%, em junho. Com isso, passou a oferecer destinos em todas as grandes cidades americanas, assim como os visitantes americanos ganharam acesso às cidades brasileiras com menos escalas.

Já na Europa, a companhia fechou, na quarta-feira 25, o acordo de compartilhamento de voos – o chamado codeshare – com a portuguesa TAP, que teve 61% do capital recém-adquirido por um consócio liderado por Neeleman, acionista com participação de 67% na Azul. “Com a TAP, cobrimos todo o continente europeu e africano”, disse Neves. “Faltava a Ásia. Agora, não falta mais.” Sob a ótica dos chineses, a compra também faz todo sentido. O Brasil ocupa, atualmente, a terceira posição no ranking dos maiores mercados para a aviação comercial, atrás de Estados Unidos e da China.

A HNA, com faturamento de US$ 25,6 bilhões no ano passado e mais de 110 mil funcionários, já controla dez companhias aéreas na China, além de supermercados, bancos, empresas de logística e a agências de turismo. Na aviação, a mais importante delas, a Hainan, é a principal operadora da Embraer da Ásia, com 67 aeronaves. A frota atual, incluindo modelos Boeing e Airbus, é de 561 aviões. A Azul, com receita de R$ 5,8 bilhões em 2014 e prejuízo líquido de R$ 65 milhões, pouco em relação às concorrentes, possui 88 aeronaves da Embraer, 59 turboélice ATR e sete aviões Airbus.

“Mais do que dinheiro em caixa, a operação permitirá que a Azul ganhe de sinergia com compra, leasing, manutenção e seguros de aeronaves”, diz o consultor da Bain & Company, Guilherme Amaral, especialista em aviação. “O grupo HNA é um conglomerado com atuação expressiva no financiamento de aeronaves.” No quesito rentabilidade, a Azul já tem voado mais alto que suas concorrentes no País.

Enquanto a companhia mantém 70 funcionários por aeronave, a média de TAM, Gol e Avianca vai de 130 a 160 pessoas. “Temos uma operação muito bem ajustada, com controle de todos os detalhes da companhia”, afirmou Neves. “Estamos preparados para, no momento apropriado, ir ao mercado”, completou o presidente, referindo-se à aguardada estreia da Azul e do Tudo Azul, o programa de fidelidade da companhia, na bolsa. Com R$ 1,7 bilhão em caixa, a abertura de capital deixou de ser uma prioridade.


O presidente da Azul, Antonoaldo Neves, falou à DINHEIRO da Istoé:



O que os chineses viram na Azul para pagar R$ 1,7 bilhão por uma fatia minoritária?

O Brasil é o terceiro maior mercado doméstico do mundo. Mesmo assim, possui apenas meia viagem por ano para cada habitante. O potencial de crescimento da aviação no Brasil é gigantesco.

A Azul adiou a estreia na bolsa por três vezes. Quando, afinal, irá abrir o capital?

O mercado nos dirá qual o melhor momento de estrear na bolsa. Atualmente, não há clima para isso. Estamos aguardando. Pode ser daqui a seis meses. Daqui a dois ou três anos. Difícil saber.

A TAP mantinha um acordo de compartilhamento de voo com a Gol e parceria com o Smiles. Como ficará a partir de agora?

O contrato, com certeza, será cumprido. Mas não vejo nenhum problema nisso. Os clientes da TAP terão a opção de escolher a Azul ou a Gol, e vice-versa.

O CEO David Neeleman sempre afirmou que o foco da Azul era a aviação doméstica, mas a empresa está cada vez mais se voltando ao mercado internacional. O plano mudou?

A lógica da Azul é a seguinte: o cachorro balança o rabo, não é o rabo que balança o cachorro. Somos uma empresa com foco na aviação doméstica, que tem parcerias e operações internacionais. Não o contrário. Continuaremos com esse modelo.

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